A Deputada do PSD no Parlamento Europeu, Lídia Pereira, dirigiu hoje à Comissão Europeia uma pergunta escrita, subscrita pelos colegas do PSD, onde quer saber se Josep Borrell, Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, tem conhecimento de contactos realizados pela Diplomacia chinesa no âmbito do relatório publicado pelo serviço de Ação Externa da UE no passado dia 24 de abril.
Lídia Pereira, que integra a Delegação do Parlamento Europeu para as relações com a China, recorda que “a não ingerência em assuntos internos é um princípio basilar do Direito Internacional” e mostra-se preocupada que “a transparência que se exige à informação disponibilizada por entidades europeias possa estar a ser condicionada pela estratégia delineada pelo Partido Comunista chinês para limpar a imagem do regime.”
O relatório em causa, sobre a desinformação disseminada durante a pandemia causada pelo Covid-19 devia ter sido publicado a 21 de abril. O atraso na divulgação do relatório, segundo tem sido avançado por vários órgãos de comunicação social internacionais, entre os quais o “New York Times” e a agência “Reuters”, deveu-se a diligências realizadas por diplomatas chineses junto dos serviços tutelados por Josep Borrell, Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança para que as considerações sobre a atuação do regime chinês fossem suavizadas.
A eurodeputada social-democrata teme que “algumas ações de solidariedade promovidas por Pequim façam parte de uma agenda escondida para, a par das tentativas de desinformação disseminada em meios de comunicação e nas redes sociais, isentar as autoridades chinesas de responsabilidades na propagação do novo coronavírus” e salienta que “as duas a três semanas durante as quais a China escondeu a gravidade da situação no início da epidemia teriam sido essenciais para evitar a situação em que nos encontramos hoje.”
Na passada sexta-feira, 26, o jornal alemão Welt am Sonntag avançou que o governo alemão admitiu ter conhecimento de diligências de diplomatas chineses junto do seu Ministério do Interior para que a ação da China, na gestão da pandemia, fosse apreciada positivamente. Porém, a polémica não é recente. Na semana anterior, o Ministro dos Negócios Estrangeiro francês, Jean-Yves Le Drian tinha convocado o embaixador chinês em Paris para lhe transmitir o desagrado das autoridades francesas com a política de comunicação adotada por Pequim.
A pergunta escrita à Comissão Europeia foi subscrita pelos Eurodeputados do PSD: Paulo Rangel, José Manuel Fernandes, Maria da Graça Carvalho, Álvaro Amaro e Cláudia Monteiro de Aguiar.
Pergunta escrita enviada à Comissão Europeia:
A não ingerência nos assuntos internos é um dos princípios do Direito Internacional. Porém, vários meios de comunicação social têm noticiado ações da diplomacia chinesa com o objetivo de ver modificado o conteúdo de relatórios sobre a gestão da informação relacionada com o Covid-19.
O governo alemão admitiu diligências de diplomatas chineses junto do Ministério do Interior para que a ação da China, na gestão da pandemia, fosse apreciada positivamente. Na mesma semana, a imprensa internacional noticiou que o serviço de Ação Externa da UE terá sido pressionado a modificar um relatório que alertava para uma campanha mundial de desinformação, organizada pela China, para desviar as atenções sobre a propagação do Covid-19 e para melhorar a sua imagem internacional.
O NY Times e a Reuters afirmam ter tido acesso ao documento original, que alegadamente difere da versão final, publicada a 24 de abril, com 3 dias de atraso.
Perante os factos enunciados, urge questionar:
Enquanto responsável pelo EUEA tem conhecimento de contactos realizados pela Diplomacia chinesa no âmbito do relatório publicado a 24 de abril?
Entre os dias 21 e 24 de abril, esse relatório foi sujeito a alterações resultantes de pressões diplomáticas exercidas pela República Popular da China?